A temperatura é um dos fatores mais relevantes na
conservação, preparação e confeção de alimentos. Os aspetos mais proeminentes
relacionados com os géneros alimentícios e controlo das temperaturas
encontram-se descritos no Regulamento da Higiene dos Géneros Alimentícios
(Regulamentação (CE) 852/2004, 853/2004 e 854/2004). O fator mais crítico na
garantia da qualidade e no prolongamento da vida dos alimentos é a temperatura.
Os abusos de temperatura têm um efeito especialmente adverso de fácil
deterioração (Pais, 2007).
O efeito da temperatura no crescimento microbiano
A temperatura é um dos fatores
ambientais que mais afeta a atividade e crescimento microbiano. Isto deve-se
principalmente à influência da temperatura sobre a atividade das enzimas
microbianas. Quanto mais baixa for a temperatura, mais lentos serão as reações
bioquímicas, enzimáticas e o crescimento microbiano. O frio inibe ou retarda a
atividade das enzimas microbianas dos alimentos, a velocidade de outras reações
químicas não enzimáticas e o crescimento dos microrganismos nos alimentos
(Inovadora, 2009).
A temperatura ideal para o crescimento
microbiano situa-se no intervalo entre 5ºC e 65ºC. Este intervalo de
temperatura denomina-se zona de perigo. É importante manter os alimentos fora
da zona de perigo microbiano, porque nesta zona as bactérias duplicam-se a cada
20, 30 minutos, o que faz com que a permanência de alimentos neste intervalo
comprometa a sua segurança (Abgrall e Misner, 1998). Dito de outra forma, para
impedir o desenvolvimento microbiano é necessário manter as temperaturas
inferiores a 5ºC ou superiores a 65ºC (Esteves et al., 2002).
O intervalo de temperaturas que
permite o crescimento de uma dada população microbiana é determinado
principalmente pelos efeitos que a temperatura tem sobre as membranas e as
enzimas dos microrganismos que a compõem (Garbutt, 1997).
A relação entre a taxa de crescimento e a temperatura para os microrganismos é ilustrada na figura 1.
Na primeira parte do gráfico, de A para B,
a taxa de crescimento aumenta, devido ao aumento da velocidade das reações
enzimáticas. Em B, a taxa de crescimento atinge o máximo, em virtude
destas reações terem atingido a sua taxa máxima. Segue-se um declínio rápido na
taxa de crescimento, como consequência da desnaturação das enzimas pelo calor e
devido aos danos sofridos pelas membranas celulares, atingindo-se um ponto (C),
onde o crescimento cessa. As temperaturas A, B e C são as
temperaturas cardinais para o crescimento. A é a temperatura mínima, a
menor temperatura onde se verifica crescimento. As temperaturas abaixo do
mínimo as propriedades das membranas celulares mudam, fazendo com que a célula
não consiga transportar para o seu interior os nutrientes de que necessita. B
é a temperatura ótima, a temperatura à qual os organismos crescem mais
rapidamente. C é a temperatura máxima, a temperaturas superiores a esta
não existe crescimento, em resultado das enzimas ficarem desnaturadas e por
conseguinte perderem a capacidade de catalisar reações celulares essenciais.
Estas temperaturas também atuam sobre as proteínas e lípidos na membrana
celular, impedindo o seu funcionamento normal. Nem todos os microrganismos
apresentam uma temperatura ótima distinta, visto que, muitas vezes têm um
intervalo ótimo de crescimento (Garbutt, 1997).
As temperaturas mínimas e máxima para o crescimento de um
microrganismo dependem de fatores como o pH e a atividade da água (aw). Se
estes fatores relativos ao meio (pH e aw) se encontrarem fora dos seus
valores ótimos, a temperatura mínima aumentará e a temperatura máxima
diminuirá, estreitando-se assim o intervalo de crescimento (Garbutt, 1997).
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